sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Seu filho tem pulso para segurar a cavalaria que você deu a ele?

O primeiro carro da minha vida foi o Chevette 77 da minha mãe.
Deus sabe que fiz muita besteira com aquela máquina, dentro do que ela permitia, então não serei hipócrita.
Comecei minha vida automobilística com esse carro não porque minha mãe tinha decidido que era melhor começar devagar, mas porque era o que nossas condições financeiras permitiam.

E aí está, creio, a raiz do problema.
Nenhum pai, nenhuma mãe dá um carro ao filho de presente imaginando que um dia assistirá aos bombeiros tentando separar os pedaços de seu filho das ferragens.
Ele ou ela dão um carro potente porque podem.
A família tem vários carros na garagem, todos novos, todos super potentes.
Os olhos do garoto brilham com aquele modelo lindo, imponente, que aparece no comercial da novela das 8.
Por que dar a ele um carro fraco?
Mais fraco do que os carros dos amigos do condomínio e da faculdade?
Por ele. Por você.

Os carros mudaram, pessoal. As motos mudaram. E nossas ruas e rodovias não acompanharam essa mudança.
Pior: muitos de nossos cérebros não acompanharam essa mudança.

Há motos nas ruas mais potentes do que as melhores motos de corrida de dez anos atrás.
Sob os capôs há muito mais cavalos do que a maioria das pessoas tem competência para controlar.
Se você faz uma curva errada e capota, a 100 quilômetros por hora, é muito provável que você volte para casa com alguns ferimentos e uma lição aprendida.
Se você faz isso a 200 quilômetros por hora, será sua última lição.

As variantes do trânsito, as coisas que podem dar errado e provocar um acidente são muitas.
É preciso de muitos anos para entendê-las, decifrá-las.
Não é um aprendizado que possa ser comprado, não importa quantos zeros haja em seu extrato bancário.
Seu filho testará os limites.
Mesmo que ele não diga isso em voz alta, em algum lugar na mente dele ele acha que a morte é algo que só acontece com os outros.
Ele precisa de tempo para entender que não é assim.
Você pode fazer o máximo para que ele tenha esse tempo.
Ou você pode discutir sobre como seu filho é diferente dos outros e como ele não comete esse tipo de irresponsabilidade.
Talvez porque, em algum lugar na sua própria mente, você ache que a morte é algo que só acontece com os filhos dos outros.
Tenha a humildade de reconhecer que o seu garoto, que a sua garota, que o seu orgulho, que o seu príncipe, que a sua rainha, não tem força nas mãos suficiente para manter sob controle a cavalaria que ele ou ela pediu de presente. E dê a ele menos, para que vocês possam ter mais tempo juntos.
Esse é o melhor presente que vocês podem dar um ao outro.

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